ANÁLISE DE REDE: Djonga - Hat Trick - IEP
Falando mais uma vez sobre uma obra de Djonga, agora sobre o novo vídeo clipe da faixa “Hat Trick” do álbum “Ladrão”.
Logo após o grande sucesso do clipe “A Música da Mãe”, do seu álbum anterior “O menino que queria ser Deus” e suas várias participações, o rapper mineiro lançou o álbum Ladrão. A nova obra teve diversos elogios por parte dos seguidores do artista, principalmente por suas letras que tocam, principalmente, as pessoas pretas. Assim como na última análise, veremos aqui algumas percepções dos internautas sobre o primeiro clipe do álbum Ladrão, Hat Trick.
O vídeo no primeiro dia de seu lançamento já ficou entre os mais vistos do Youtube. A letra da música transmite quase como se fosse uma mensagem ao povo negro em diversos casos diferentes. Ao observarmos a rede abaixo, vemos:
No cluster laranja, uma conversa sobre as dificuldades de enfrentar e vencer num universo branco, e quando se sai vitorioso, um dos principais propósitos é a satisfação de mostrar a vitória à mãe. E o interessante ao vermos a rede, é que os termos se entrelaçam com a mensagem final sobre os preconceitos que um jovem negrx enfrenta durante qualquer caminho em um ambiente que não é o seu. Isso é representado no cluster verde claro.
Enquanto isso, na letra e nada rede, vemos a resistência desde a infância representados nos clusters azuis e amarelo. Djonga passa entre o quanto tem de ser pilar de representatividade para as crianças e o quanto elas têm de entender que as barreiras postas pelo preconceito são postas desde neste mesmo período onde estão.
Rede de termos da letra “Hat Trick" gerada com o Gephi. Cerca de 267 nós e 806 arestas.
Ao observados os comentários do clipe, temos a divisão entre três assuntos que se interligam. Eles são: Comentários sobre elementos do vídeo e elogios; Citação da letra; Referências principais.
Rede de comentários do vídeo “Hat Trick” gerada com o Gephi. Cerca de 3.088 nós e 191.519 arestas, coletados no dia 15/04.
Observando o cluster verde-água, podemos ver os diversos comentários sobre os elementos que o clipe possui, desde o rosto pintado de branco, até os comportamentos do personagem em meio a uma sociedade racista. Isso fica mais explícito com os termos: “sociedade”, “brancos”, “mensagem”, “tiro”, “contrário” e “origens”. Um pouco mais acima desse cluster estão os elogios ao clipe, exibidos com os termos: “foda”, “parabéns”, “caralho” (sempre em uma forma de “advérbio de intensidade”), “show” e “Gustavo” (elogiando o rapper pelo seu nome de batismo).
Podemos ver nos termos de intersecção entre o cluster verde-água e laranja alguns termos que fazem elogio ao clipe juntamente com a letra e suas referências, tais como: “bom”, “favela”, “maior”, “sangue” e “trampo”.
O cluster laranja apresenta diversas citações de alguns versos da letra de Hat Trick e o quanto os fãs/internautas gostaram deles e das referências trazidas no clipe.
O cluster verde claro traz as referências percebidas pelos internautas, principalmente por uma outra obra em que diversos comentários citaram nos comentários. Alguns dos usuários fizeram um paralelo do clipe com a obra de Frantz Fanon, “Pele negra, máscaras brancas”. A referência destacada não foi só apenas pelo uso de uma pintura facial branca, mas pelo o que o vídeo simbolizou.
No livro, o intelectual martinicano fala sobre o racismo, colonialismo e as formas de dominação entre os seres humanos, principalmente pautando as relações raciais dos seres humanos desde os tempos da escravidão até os dias atuais. Com pensamentos e críticas duras a obra também trata sobre problemas de autoestima do negro, movimento anticolonial e antirracistas.
Capa do livro de Frantz Fanon
Dentre alguns comentários sobre a percepção da referência estão:
"Referência a Frantz Fanon ???? Tô em estado de êxtase e choque ao mesmo tempo" "Quando eu vi foi a primeira reação que tive. Caralho Fanon!"
"E se fosse ao contrário? Djonga passando a visão clipe fico sincero de fato. Frantz fanon referência foda." "Franz Fanon nossos passos vem de longe! Era dessa injeção de ânimo que eu precisava para não ter uma overdose de brancura 😘"
E é nesse mesmo clima/tema do livro que Djonga monta seu clipe. Exibindo, assim como com Fanon, como em uma sociedade racista e preconceituosa, o negro “precisa” se portar para alcançar lugares mais altos. E questionando em alguns pontos importantes do clipe ele exibe “E se fosse ao contrário? ”. Alguns internautas acabam por comentar a mesma coisa no intuito do debate.
Confira o clipe da Faixa Hat-Trick